sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Duas fatias de pizza e um guaraná.

Dia desses fui comer uma pizza com um amigo em um determinado restaurante da zona sul carioca e acabei por experimentar uma interessante experiência gastronômica e social.

Como nunca tinha ido ao estabelecimento, me chamou a atenção a simplicidade do conceito com pouca variedade e excelente qualidade das pizzas. O local também se destacava. Design contemporâneo, cores fortes e chamativas, mas sem nenhum exagero. Me sentia no Soho ou no Meatpacking District (sou exagerado, e sei disso). Mas o que realmente estava se destacando ali era o mal humor generalizado dos funcionários. Impressionante. Todos de bico.

Estava com fome e não havia mesa disponível, então paguei as pizzas no caixa e pedi para comer ali mesmo, no balcão. Estendi meu braço com o recibo e a atendente depois de muito zanzar, pegou meu recibo e apenas olhou para mim. Não falou nada. Confesso que nesse momento, "meu sangue de espanhol" (como diz minha mãe) quase falou mais alto e cometi uma grosseria no anseio de ser bem tratado, mas respirei fundo e calmamente mandei um "boa noite, gostaria de uma fatia de portuguesa, por favor". Ela continuou sem dar uma palavra.

Comi. De fato, uma delicia.

Não sei se você reparou no início do texto mas escrevi pizzas, no plural. Então fui ao segundo pedaço, e dessa vez resolvi inovar. Queria algo surpreendente. Diferente. Novo. Incrível. Então lá fui eu de novo, torcendo pra não ser a mesma simpática funcionária de outrora (apesar de já imaginar que outra não seria diferente). Eu estava empenhado na missão de conseguir um pizza brilhante. Então olhei no balcão mas nada me cativou. Estendi o braço e “bingo“ a mesma simpática de antes, repetindo o feito, apenas me olhou, esperando minha proatividade.

- Oi, então, eu quero uma fatia da sua melhor pizza.
- O que?
- Eu disse que eu quero uma fatia da sua melhor pizza.
- Senhor, nós temos portuguesa, calabresa, mussarela, marguerita...
- Pois então, eu quero a melhor.
- Mas o senhor precisa escolher.
- Mas eu já á escolhi, quero a melhor!
- A melhor não tem agora. Está fazendo ainda.
- Olha, eu já paguei, comprei uma fatia, quero a melhor fatia disponível e quem vai me dizer qual é a melhor fatia disponível é você.

Nesse momento, outra atendente para e se junta pra entender o que está acontecendo.

- Pois não?!
- Querida, eu estava tentando dizer pra sua colega que quero uma fatia da sua melhor pizza apenas isso, se não me falhe a memória, essa já é a sexta vez.
- Mas qual o senhor quer?
(Nesse momento duas perguntas não saem da sua mente,como é possível ser tão difícil? Seguida de... como o Guilherme pode ser tão chato?)

Depois de muito confabularem, voltaram as duas com uma fatia de calabresa. Confesso que num primeiro momento, fiquei decepcionado, afinal, eu queria a melhor, e queria ser surpreendido, e queria que fosse brilhante e queria que fosse inovadora e queria que fosse intrigante e queria que fosse genial. E foi. Só que, na verdade, verdadeira, eu só queria ser ouvido.

Um comentário:

  1. Simplesmente genial! Você deu uma aula completa de atendimento pra ela apenas com um simples pedido. Não imagino uma forma melhor de questionar uma pessoa sobre sua postura profissional. Acho que o dono da pizzaria tinha que ler isso e dar um treinamento para os funcionários. Será que ela não come as pizzas de onde trabalha?

    ResponderExcluir